Intolerância à frutose e dermatite seborreica e/ou acne: testemunho

Hoje quero deixar aqui o meu testemunho no que toca a dermatite seborreica e à sua possível relação com intolerância à frutose porque acredito que a minha experiência poderá ajudar muita gente a encontrar uma resposta para os mesmos problemas que já vivi e que se arrastaram demasiado tempo - quando afinal a solução era tão simples!

Há cerca de sete anos, comecei a ter alguns problemas na pele do rosto. Até esse momento, tive sempre a pele sem qualquer tipo de imperfeições, muito sedosa e macia. Nem na adolescência tinha tido borbulhas ou espinhas. Subitamente, a pele começou a apresentar algumas borbulhas. No início não eram muitas mas foram aumentando gradualmente. Depois, às borbulhas juntou-se a descamação: a pele descamava facilmente e, por vezes, ficava muito vermelha. 
Consultei uma dermatologista muito reputada da minha cidade que estabeleceu como hipótese uma ligação entre a pele e a presença de Helicobacter Pylori (que entretanto foi detectada através de análises sanguíneas). Fiz a erradicação da bactéria (foram necessárias duas tentativas) - erradicação que foi verificada através de Teste Respiratório de Hidrogénio e também através de endoscopia.

No entanto, mesmo depois da erradicação da bactéria, o problema não só persistiu como foi agravando sempre, muito gradualmente. 

Fui então diagnosticada com Dermatite seborreica. Na altura, aceitei facilmente o diagnóstico porque sempre tive e tenho, ocasionalmente, alguns episódios de dermatite seborreica no couro cabeludo, pelo que achei natural que pudesse ocorrer o mesmo problema no meu rosto.

Consultei vários dermatologistas e todos fizeram o mesmo diagnóstico. Após análises ao sangue (para verificar alergias, índices hormonais e outros parâmetros que consideravam importantes) e testes cutâneos que nunca acusavam qualquer tipo de problema, alergia ou desequilíbrio, receitavam antibióticos e cremes... Mas o meu problema no rosto continuava a piorar em vez de melhorar. Apesar de não existir qualquer tipo de desequilíbrio hormonal, foi-me aconselhado que voltasse à pílula contraceptiva. Eu acedi mas não obtive qualquer resultado, mesmo depois de um ano de utilização.
Foto do meu rosto no pico do problema de dermatite seborreica
A pele começou a ficar cada vez
mais intolerante, mais vermelha, mais áspera e mais sensível. Esconder as imperfeições era impossível porque a maquilhagem descamava completamente após cerca de 30 minutos sobre a pele. O aspecto da pele era horrível, especialmente quando descamava, o que, em algumas situações sociais, me deixava bastante insegura.

Durante este período, como podem imaginar, perguntei aos vários médicos que consultei se a causa poderia ser alimentar. Eu ficava sempre com a ideia de que a causa seria alimentar porque as manchas vermelhas e borbulhas pareciam mais fortes à volta do nariz e boca (seguindo aquelas linhas de expressão que todos temos nessa área - sorriso). Para além disso, tinha cerca de 2 vezes por semana, mais ou menos, descargas intestinais. A resposta era sempre a mesma: seria muito pouco provável que o problema de pele  tivesse causa alimentar. A área do rosto afetada correspondia simplesmente a uma zona mais gordurosa da pele e, por isso, mais sujeita à dermatite seborreica. Pediam-me apenas que, nas alturas piores, de crise, me abstivesse de consumir chocolate, queijo, tomate, álcool, citrinos... alimentos normalmente associados a possíveis reacções como urticária. Foi-me também pedido que, durante algum tempo, consumisse produtos sem lactose.

Há cerca de dois anos cheguei ao ponto mais grave, de tal modo difícil que a pele não tolerava creme nenhum. Apesar de serem produtos próprios para pele extremamente sensível, receitados por dermatologistas, eu fazia sempre reacção. Qualquer creme, ou mesmo até água micelar, fazia com que a minha pele ardesse, ficasse vermelha e/ou com a sensação de calor na cara. Apenas a água termal vaporizada ajudava a acalmar a pele. Ao fim de algumas tentativas, consegui encontrar, por indicação de um novo dermatologista (um dos melhores do país mas com consultas caríssimas), um creme hidratante que a minha pele conseguiu tolerar bem. Mas era apenas tolerar. As borbulhas nunca desapareciam nem sequer com cremes à base de cortisona (diminuíam só muito ligeiramente); apenas diminuíam visivelmente com um creme à base de pimecrolimo (misturado com o meu hidratante), um creme que, segundo o médico (e a bula) só deve ser usado quando mais nenhum outro método se revelou eficaz. Mas, assim que deixava de colocar esse creme, o problema voltava em força. Os antibióticos também não ofereciam qualquer mais valia.
A pele continuava a descamar, muito vermelha e, a partir dessa altura. com um aspecto muito envelhecido. A pele parecia ficar enrugada na zona à volta da boca e queixo e com uns relevos estranhos, para além das borbulhas.


E continuava a tomar os antibióticos (sempre em baixa dosagem mas por períodos muito longos de tempo)...

Claro que uma outra explicação levantada para o problema durante todo esse tempo foi stress. Mas, após algumas experiências em que estive sob grande tensão e pressão profissional, verificámos que acontecia o contrário: a pele ficava melhor quando exposta ao stress. Na altura não percebíamos porquê mas concluímos que o stress não era o problema. Só muito mais tarde, percebi o porquê que contarei mais à frente.

Como não conseguíamos melhorias, o médico pediu-me que consultasse um nutricionista para ver se este podia ajudar de alguma forma com alguma dieta especial. O nutricionista recomendou-me uma dieta sem glúten (apesar da análise sanguínea não indicar problemas desta ordem) com a qual não obtive resultados. De seguida, experimentei a dieta FODmap para verificar se haveria alguma alteração. Na verdade, essa dieta fez com que o problema piorasse, ainda que ligeiramente. Mais tarde explicarei porquê.

No Natal de 2015, cansada de dietas, de experiências sem resultados resolvi esquecer o problema e comer de tudo sem restrições durante a época das festas. E comi todos os doces, todas as especialidades de Natal (extremamente calóricas e com muito açúcar). Comi rabanadas ao pequeno almoço, comi sempre sobremesa (doces), bolo rei, mexidos, sonhos, aletria, chocolates, chocolates, chocolates... Tudo a que tinha direito e mais alguma coisa. Engordei 2,5kg em apenas duas semanas mas, para minha surpresa, a pele ficou limpa de borbulhas. Como é que a agora que estava a fazer uma alimentação tão má tinha bons resultados? Eu que sempre tinha tanto cuidado com a alimentação... Não conseguia perceber nada! Mas sabia que não podia continuar a comer (e a engordar) daquela forma. Então, nos primeiros dias de Janeiro resolvi voltar a comer bem, como sempre fazia, voltando aos velhos hábitos. E voltei à sopa (vegetais) em todas as refeições e à fruta, alimentos que, naquelas duas semanas tinham ficado quase completamente de lado (devo ter comido naquelas duas semanas do Natal 2 peças de fruta e uma sopa, se tanto...). Dois dias depois após voltar à alimentação saudável a pele estava, novamente, com borbulhas...

Depois de contar este episódio ao meu dermatologista, ele achou melhor fazer um teste de intolerância à frutose através de teste respiratório de hidrogénio (o único fidedigno). E deu positivo. Nem queria acreditar! Finalmente, depois de centenas de euros gastos em testes de todo o tipo, havia um que acusava alguma coisa! Fiquei tão feliz que nem parei para perguntar a mim mesma porque é que um exame tão simples não me tinha sido prescrito antes!
Mais tarde, fiz o teste de intolerância à lactose que também se revelou positivo.

Foto do meu rosto
após descoberta da intolerância à fructose
Depois de consultar um novo nutricionista, habituado a lidar com casos de intolerância à frutose e de seguir algumas das suas recomendações, a pele voltou ao normal, gradualmente. Na altura, por conselho da gastroenterologista tomei também um probiótico para voltar a equilibrar a flora intestinal depois de tantos antibióticos. Ao fim de alguns dias, a pele voltou a ter uma aspecto limpo, sem borbulhas, ainda que continuasse um pouco sensível. E ao fim de alguns meses voltei a ter a pele suave, macia e pálida que sempre tive, sem imperfeições, sem vermelhões e voltei a conseguir colocar os meus cremes habituais, maquilhagem, fazer máscaras hidratantes... Tudo normal!

Nessa altura comecei a perceber tudo:
quando estava sobre grande stress profissional, normalmente estava em viagem, fora de casa e a minha alimentação era má... raramente comia fruta. Comia essencialmente fast food ou snacks rápidos sem vegetais, sem frutas... Por isso a pele melhorava...
No caso da dieta Fodmap também tive que aumentar o consumo de frutas, leguminosas e vegetais e isso fez com que piorasse, obviamente. 
A prescrição contínua de antibióticos também me prejudicou dando provavelmente, segundo a minha gastroenterologista, lugar a uma disbiose que pode ter agravado os sintomas, também.
Aliás, por causa da suspeita de disbiose, um ano após o primeiro teste, voltei a repetir o teste respiratório de Hidrogénio para verificar a intolerância à frutose. Foi a confirmação de tudo: acusou intolerância e, nos dias após o teste, voltaram os sintomas, ainda que de forma bem mais leve: as borbulhas, os vermelhões, os relevos estranhos na pele, as rugas noq euixo e as descargas intestinais,. Foi só esperar uns dias e tudo passou novamente.

Depois destes episódios, descobri alguns sites (em inglês) que falam desta relação entre intolerância alimentar e dermatite seborreica mas acredito que é necessária mais informação. Também li alguns estudos que sugerem uma relação direta entre intolerância à frutose e casos de Síndrome do intestino irritável (ou Síndrome do Cólon irritável). Alguns desses estudos sugerem que cerca de 70% dos casos de Síndrome do Intestino irritável serão simplesmente causados por intolerâncias... Bastará a abstenção no que toca a determinados alimentos e tudo desaparecerá. 

Não quis deixar de contar aqui a minha experiência. Não será difícil a alguém que tenha dermatite seborreica ou síndrome do intestino irritável testar as suas intolerâncias. Se não tiver acesso fácil ao teste de hidrogénio basta simplesmente deixar de consumir esses produtos durante cerca de uma semana... O corpo ditará imediatamente a resposta.
Espero que este texto vos seja útil! Deixem os vosso testemunhos nos comentários!